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O uso das cores na arquitetura hospitalar como ferramenta de funcionalidade, humanização e bem-estar


A seguir, discutiremos os principais conceitos que sustentam o uso consciente das cores na arquitetura para a saúde.
 

Este artigo aborda os efeitos fisiológicos, emocionais e simbólicos das cores no contexto hospitalar, além de destacar sua importância na orientação espacial, na sinalização e na criação de ambientes mais acolhedores e eficientes. Projetar com cores é, portanto, um ato de empatia e responsabilidade.
 

Nos ambientes hospitalares, onde convivem situações de nascimento, tratamento, reabilitação e, por vezes, luto, a arquitetura deve ir além da funcionalidade técnica. O uso das cores, quando embasado em critérios científicos e sensíveis à experiência humana, torna-se uma estratégia eficaz para a promoção da saúde e da segurança.


A cor como ferramenta sensorial e simbólica

 

A cor é uma sensação visual provocada pela ação da luz sobre os objetos e sua interpretação pelo sistema nervoso. Essa percepção vai além da fisiologia: envolve também fatores culturais, emocionais e psicológicos. Em ambientes para a saúde, onde as emoções estão à flor da pele — seja pelo nascimento, pela doença ou pelo óbito—, as cores devem ser cuidadosamente escolhidas, com base em critérios técnicos e científicos.
 

As cores exercem três funções básicas: impressionar, ao impactar diretamente a retina; expressar, ao provocar uma resposta emocional; e construir, ao atribuir significados simbólicos. Um ambiente dominado por cores neutras ou frias pode induzir à introspecção ou melancolia, enquanto cores quentes e vibrantes, se bem equilibradas, estimulam sensações de acolhimento, energia e vitalidade.


Efeitos físicos e psicológicos das cores

 

A exposição a determinadas cores pode contribuir para a melhora do humor, redução do estresse e até mesmo auxiliar no controle da dor, favorecendo a recuperação dos pacientes e tornando o ambiente mais acolhedor.
 

Modesto Farina, Clotilde Perez e Dorinho Bastos, em seu livro “Psicodinâmica das Cores em Comunicação” (2011), destacam que cores frias, como o azul e o verde, exercem influência fisiológica e psicológica significativa sobre o organismo humano.
 

O azul, por exemplo, é útil para ambientes de repouso e espera, pois, reduz o ritmo cardíaco e transmite serenidade. Já o verde está associado à cura, à esperança e à natureza — razão pela qual é amplamente utilizado em centros cirúrgicos e áreas de internação.


Em contrapartida, cores como o vermelho, embora tenham efeito estimulante, podem provocar agitação e elevação da pressão arterial, sendo indicadas apenas em elementos de destaque e sinalização. Cores como laranja e amarelo, quando usadas com moderação, podem estimular a criatividade e elevar o ânimo.


O livro também destaca a ação terapêutica de outras tonalidades. O rosa é indicado em casos de anemia e melancolia, enquanto a cor cereja pode ser utilizada para amenizar palpitações.



 

O violeta exerce ação germicida e é útil no tratamento de febres e congestões, além de atuar como antidepressivo. O índigo possui efeito hipnótico e narcótico, sendo recomendado para situações de inchaço e inflamação. O púrpura é mencionado por sua atuação positiva em casos de hipertensão arterial.
 

Outras cores neutras e simbólicas também aparecem no repertório cromático dos autores. O cinza, por exemplo, pode contribuir para a redução do nervosismo e da insônia, mas está igualmente associado à melancolia e ao tédio, devendo ser usado com cautela.
 

O marrom, assim como o amarelo, deve ser evitado em ambulatórios móveis, devido à sua associação com enjoo. Por fim, o amarelo-dourado ou ouro é fortemente vinculado à sacralidade e ao prestígio, sendo adequado em ambientes institucionais que valorizam uma ambiência de respeito e solenidade.



 

Os autores descrevem a cor preta como ausência de luz, ligada à introspecção, tristeza, opressão e morte. Embora possa evocar temor e melancolia, também carrega significados de sofisticação e seriedade, dependendo do contexto. Em ambientes hospitalares, seu uso deve ser moderado, pois pode reforçar sensações negativas, mas, quando bem aplicado, pode transmitir elegância e sobriedade.

 

Cores como estratégia de orientação e segurança

Além da função estética e terapêutica, as cores cumprem papel funcional importante em área de saúde. São utilizadas na sinalização de setores, na identificação de fluxos e no auxílio à orientação espacial (wayfinding) — especialmente para idosos ou pessoas com dificuldades cognitivas.


 

A padronização cromática de gases, resíduos e rotas de emergência, por exemplo, facilita a operação técnica e reduz erros operacionais.
 

Conclusão: cor como elemento de cuidado
 

A cor, quando aplicada com base em fundamentos técnicos e respaldo científico, é capaz de promover impactos significativos na percepção ambiental, no comportamento humano e nas respostas psicofisiológicas dos usuários.



Assim, projetar com cores não é apenas uma escolha estética, mas uma ação intencional voltada à promoção da saúde, da segurança e do bem-estar subjetivo. A integração sensível entre ciência, técnica e empatia torna o uso das cores uma poderosa ferramenta de projeto, capaz de transformar o espaço assistencial em um lugar de conforto, acolhimento e dignidade.
 

Autoria: Equipe técnica da empresa associada Orion Arquitetura
www.orionarquitetura.com.br


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